O ano de 2009 está sendo -muito apropriadamente, por sinal- chamado de 'O Ano Simonal'. Senão, vejamos: duas biografias, uma delas serviu de tese de doutorado -'Simonal: Quem Não Tem Swing Morre Com A Boca Cheia De Formiga'; a edição de um box compreendendo todos os discos de sua fase -e melhor, também- na Odeon (atual EMI) e um premiado documentário, 'Ninguém Sabe O Duro Que Dei', estreando hoje aqui na Cidade Maravilhosa. Aí, vocês me perguntam: 'Por que todo esse oba-oba para um cara de quem nunca ouvi falar?'. Para começar, se alguém jamais (acho difícil) ouviu falar do Simona, foi porque em meados da década de 70 ele foi vítima do maior assassinato artístico da história deste país. E tudo devido a uma trama sórdida perpetrada por seu contador -que lhe havia aplicado um desfalque e, segundo a vítima e veementemente negado até a morte por Simonal, levou uma surra encomendada pelo cantor a dois policiais- e um diretor da Globo, João Carlos Magaldi, que, em represália e muito convenientemente pois o cantor era contratado de uma concorrente e seu programa sempre batia de goleada a audiência da Poderosa, espalharam o boato de que ele seria informante do DOPS, a polícia política daqueles anos de chumbo e de tristes lembranças. Aliada à campanha imposta pel'O Pasquim, na figura de Jaguar, um antigo desafeto, que passou a referir-se a ele sempre pela alcunha de dedo duro, de uma hora para outra todas as portas se fecharam para aquele que foi o maior cantor e entertainer que este país já teve. De ídolo -enquanto esteve ativo foi muito mais popular e vendeu muito mais discos que Roberto Carlos- a alcoólatra foi um pulo. Ainda chegou a gravar umas poucas coisas na década de 80 mas não conseguia se apresentar, até porque não havia músicos para acompanhá-lo já que uma 'lei silenciosa' determinava que o profissional que o fizesse também seria banido, e foi alijado de todas as TVs do país.
Este fantástico cantor dono de timbre e divisão únicos, além de músico, arranjador, compositor diletante mas inspirado e de uma alegria contagiante, está entre meus ídolos maiores na MPB. Desde moleque colecionei todos seus LPs e compactos, tive o mascote Mug, assistia-o em qualquer canal de TV em que aparecesse e jamais me conformei com esta sacanagem. E o pior é que n-i-n-g-u-é-m dignou-se a defendê-lo e, com o acesso à mídia precária da época bloqueado, nem mesmo ele pode fazê-lo.
Parece-me que, finalmente, chegou a hora de fazer justiça não só ao artista completo e genial -além de incrivelmente atual- que foi Wilson Simonal, como também ao cidadão Wilson Simonal de Castro, 'assassinado' -sim, porque morreu em profunda depressão e de uma pancreatite decorrente do alcoolismo- em completo ostracismo em 25 de Junho de 2000, com apenas 61 anos, por uma esquerda que não aceitava que pudesse haver, naqueles tempos difíceis, alguém que se dedicasse apenas a espalhar alegria e talento por onde passasse. Lembro-me como se fora hoje de um episódio que demonstra muito bem o que era ser 'Simonal'*: a diva Sarah Vaughn, em turnê pelo país, foi convidada a comparecer ao programa que o cantor mantinha na TV Record -se não me falha a memória- e Simona puxou uma óbvia 'Oh, Happy Day' e lá foi Sarah timidamente soltando uns scats aqui e uns vocalises ali. Ao final da apresentação, o lado entertainer daquele negão boa pinta, de largo sorriso e muito charmoso aflora e ele começa a fazer umas perguntas sacanas àquela verdadeira divindade do jazz como se a conhecesse desde a infância. O clima de descontração foi tão grande que Miss Sarah, habitualmente arredia, rendeu-se totalmente aos encantos de Simonal e os dois ainda brindaram a audiência com uma interpretação magistral de 'The Shadow Of Your Smile'.
Diante das provas irrefutáveis de sua inocência, será que não seria justo este governo, que se diz de esquerda, fazer um mea culpa e oferecer à sua família o direito à mesma indenização, reconhecimento e reparação histórica a que os perseguidos pelo regime militar fizeram juz? Vale lembrar que muitos destes nem mesmo seriam merecedores de quaisquer destas deferências; no entanto, além de receber vultosas quantias vitaliciamente, uma boa parcela ainda ajuda a (des)governar e saquear este país.
*Avisado por um amigo, encontrei aqui esta apresentação e estou até agora embargado. Já a assisti 3 vezes!
**************************
A princípio, pensei em homenagear o rei do samba soul, do swing, da 'pilantragem' e outras bossas disponibilizando toda sua discografia da fase Odeon, pescada com muita perseverança ao longo de 3 anos de blogs diversos em rips -a grande maioria excelentes, por sinal- de vinis; no entanto, devido ao pouco tempo para subir tantos links e à excelente notícia do lançamento deste luxuoso box -que farei o impossível para adquirir original e assim fazer uma homenagem à altura lá no G&B-,limitei-me a esta compilação dupla por ser um belo aperitivo da obra do grande Simona. São 33 faixas de puro swing e malícia, entre elas 'Sá Marina', 'País Tropical'(gravou-a antes do próprio Jorge Ben e sua interpretação é infinitamente superior à do Babulina), 'Mamãe Passou Açúcar Em Mim', 'Tributo A Martin Luther King', 'A Praça', 'Meu Limão, Meu Limoeiro'(depois sucesso na voz do ratinho Topo Gigio, alguém lembra?), 'Mustang Cor de Sangue', 'Balanço Zona Sul', 'Nem Vem Que Não Tem', 'Aqui É O País Do Futebol', 'Escravos De Jó', 'Nanã', 'Lobo Bobo', 'Vesti Azul', 'Correnteza', 'Agora É Cinza', 'Está Chegando A Hora', entre muitas outras.
Então, como ele, com toda sua marrenta simpatia, diria, vamo s'imbora!
Este fantástico cantor dono de timbre e divisão únicos, além de músico, arranjador, compositor diletante mas inspirado e de uma alegria contagiante, está entre meus ídolos maiores na MPB. Desde moleque colecionei todos seus LPs e compactos, tive o mascote Mug, assistia-o em qualquer canal de TV em que aparecesse e jamais me conformei com esta sacanagem. E o pior é que n-i-n-g-u-é-m dignou-se a defendê-lo e, com o acesso à mídia precária da época bloqueado, nem mesmo ele pode fazê-lo.
Parece-me que, finalmente, chegou a hora de fazer justiça não só ao artista completo e genial -além de incrivelmente atual- que foi Wilson Simonal, como também ao cidadão Wilson Simonal de Castro, 'assassinado' -sim, porque morreu em profunda depressão e de uma pancreatite decorrente do alcoolismo- em completo ostracismo em 25 de Junho de 2000, com apenas 61 anos, por uma esquerda que não aceitava que pudesse haver, naqueles tempos difíceis, alguém que se dedicasse apenas a espalhar alegria e talento por onde passasse. Lembro-me como se fora hoje de um episódio que demonstra muito bem o que era ser 'Simonal'*: a diva Sarah Vaughn, em turnê pelo país, foi convidada a comparecer ao programa que o cantor mantinha na TV Record -se não me falha a memória- e Simona puxou uma óbvia 'Oh, Happy Day' e lá foi Sarah timidamente soltando uns scats aqui e uns vocalises ali. Ao final da apresentação, o lado entertainer daquele negão boa pinta, de largo sorriso e muito charmoso aflora e ele começa a fazer umas perguntas sacanas àquela verdadeira divindade do jazz como se a conhecesse desde a infância. O clima de descontração foi tão grande que Miss Sarah, habitualmente arredia, rendeu-se totalmente aos encantos de Simonal e os dois ainda brindaram a audiência com uma interpretação magistral de 'The Shadow Of Your Smile'.
Diante das provas irrefutáveis de sua inocência, será que não seria justo este governo, que se diz de esquerda, fazer um mea culpa e oferecer à sua família o direito à mesma indenização, reconhecimento e reparação histórica a que os perseguidos pelo regime militar fizeram juz? Vale lembrar que muitos destes nem mesmo seriam merecedores de quaisquer destas deferências; no entanto, além de receber vultosas quantias vitaliciamente, uma boa parcela ainda ajuda a (des)governar e saquear este país.
*Avisado por um amigo, encontrei aqui esta apresentação e estou até agora embargado. Já a assisti 3 vezes!
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A princípio, pensei em homenagear o rei do samba soul, do swing, da 'pilantragem' e outras bossas disponibilizando toda sua discografia da fase Odeon, pescada com muita perseverança ao longo de 3 anos de blogs diversos em rips -a grande maioria excelentes, por sinal- de vinis; no entanto, devido ao pouco tempo para subir tantos links e à excelente notícia do lançamento deste luxuoso box -que farei o impossível para adquirir original e assim fazer uma homenagem à altura lá no G&B-,limitei-me a esta compilação dupla por ser um belo aperitivo da obra do grande Simona. São 33 faixas de puro swing e malícia, entre elas 'Sá Marina', 'País Tropical'(gravou-a antes do próprio Jorge Ben e sua interpretação é infinitamente superior à do Babulina), 'Mamãe Passou Açúcar Em Mim', 'Tributo A Martin Luther King', 'A Praça', 'Meu Limão, Meu Limoeiro'(depois sucesso na voz do ratinho Topo Gigio, alguém lembra?), 'Mustang Cor de Sangue', 'Balanço Zona Sul', 'Nem Vem Que Não Tem', 'Aqui É O País Do Futebol', 'Escravos De Jó', 'Nanã', 'Lobo Bobo', 'Vesti Azul', 'Correnteza', 'Agora É Cinza', 'Está Chegando A Hora', entre muitas outras.
Então, como ele, com toda sua marrenta simpatia, diria, vamo s'imbora!
CD 1
CD 2
E se alguém ainda não se convenceu da relevância artística e atualidade musical do 'crioulo', bem como do crime artístico cometido contra ele, aqui está o trailer de
'Ninguém Sabe O Duro Que Dei'.
*********************
Gallera, este é o último petisco que sirvo por aqui e, por isso, o capricho desta postagem.
Mas, fiquem tranquilos que estarei sempre dando uma passada pra tomar aquele chopp geladaço habilmente servido pelo Zaqueu.
Então...
ZAQUEU!!! Traz a saideira e a ALeda!!!!
E se alguém ainda não se convenceu da relevância artística e atualidade musical do 'crioulo', bem como do crime artístico cometido contra ele, aqui está o trailer de
'Ninguém Sabe O Duro Que Dei'.
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Gallera, este é o último petisco que sirvo por aqui e, por isso, o capricho desta postagem.
Mas, fiquem tranquilos que estarei sempre dando uma passada pra tomar aquele chopp geladaço habilmente servido pelo Zaqueu.
Então...
ZAQUEU!!! Traz a saideira e a ALeda!!!!
18 comentários:
Edson,belo post pela lembrança dessa injustiça feita ao Simonal,vi uma reportagem sobre isso outro dia realmente é lamentável...vou até colocar o tema em discussão num fórum de política que participo.
e qto a postagem ser sua saideira eu espero que não,que vc se ajeite logo na sua nova empreitada e continue nos brindando com seus textos incríveis.
O Simonal foi um artista completo, espero que sua música e sua imagem sejam resgatadas e que as novas gerações tenham sensibilidades para sua música.
Se alguém precisar de uma ótima referência musical ele é o cara.
Parabéns pela postagem, ficou muito bacana.
[]ão.
Edson,
acabei de assistir o vídeo...cara, é demais...
Realmente, Herman, cometeram um crime contra um cracaço da música brasileira e, como é comum neste país, seus autores ficaram impunes. Assisti pela TV esse cara manipular 30000 vozes no Maracanãzinho, mais de 15 anos antes de Freddie Mercury fazê-lo no Queen. Infelizmente, ser negro inteligente, culto e articulado neste país é um crime.
[]ões
Brigadão, Mr. Big. Durante vários momentos da montagem deste post fiquei claramente emocionado. Mexeu muito comigo. Infelizmente, não vou poder assistir o documentário pois está passando em poucas salas e todas bem longe daqui de casa mas, quem tiver condições, vá assisti-lo pois está muito elogiado e, a julgar pelo trailer, muito bem dirigido e digno do artista q foi o Simona. Vou esperar ansiosamente pelo DVD.
Mas qual vídeo vc assistiu? O com a Sarah Vaughn ou o trailer. De qq forma, se assistiu só a um, assista também o outro.
[]ões
Eu tinha asistido ao vídeo do Simonal com a Sarah Vaughn...Agora vi o trailer...muito bacana também...ele foi exibido no programa "Altas Horas" no sábado passado, o cara do Casseta e Planeta, que não me recordo o nome agora, foi entrevistado pelo S.G.
[]ão.
Um dos diretores é o Claudio Manoel, do Casseta & Planeta. Sabia que muitas empresas patrocinadoras do filme -acredito ser um caso inédito na história do marketing! hehehe- pediram para não serem citados por temerem uma repercussão negativa? Veja só a que ponto chegamos!
[]ões
Pô, Edson, você é um dos fundadores dessa birosca aqui, vai mesmo deixar os sócios na mão?
Eu protesto!
Sério, cara, é uma pena...
Post muito bacana, parabéns! Esses casos de reconhecimento tardio ao artista sempre me doem ao coração...
Abraços, da
Lu
Oi, Lu!
Pois é, foi uma decisão de última hora e também me pegou de surpresa (mas nem tanto), hehehe.
Lu, esse cara foi um craque e se vc ainda não o conhece recomendo seu swing e alegria até como remédio contra artrite, hehehe. Assista os vídeos e vc terá uma ideia do q tô falando.
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Falaê, Dagon!
Depois lhe respondo o e-mail (só há pouco abri o Outlook Exp), ok?
Cara, se vc curte Benito acho muito difícil q vc não se vicie em Simonal. E o som do Simoninha é uma extensão clara do trabalho do pai, até mesmo fisicamente, no timbre de voz e na divisão melódica são muito parecidos. É quase como, se vivo fosse, soaria o som de Simonal hoje.
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Zakk, o modo mais rápido de vc ter respondida esta pergunta é lendo meu texto; no entanto, as outras - ler os livros e ver o filme-, apesar de mais custosas, serão bem mais agradáveis, hehehe.
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Não posso nem pensar no Simonal porque me dá vontade de chorar de frustração e de raiva. O que aconteceu com ele dá uma dimensão palpável do que é o caráter do brasileiro. Agora, muita gente que mostra 'piedade', mas na época e até ele morrer ninguém lhe deu sequer o benefício da dúvida, nem o direito à defesa. Até hoje o Jaguar vive se jactando de ter contribuído para destruir a carreira do Simonal. No livro 'Vou Te Contar', o Walter Silva diz que conversou com o Simonal e 'O perdoou'(??) - pqp, e eu que pensava que quem perdoa é Deus. Raça do caralho, bando de hipócritas filhos da puta, isso sim. Essa esquerda stalinista, recalcada, além de rancorosa e racista, sem coragem de bater nos milicos escolheram o Simonal para exorcizar seu ódio. Aqui em SPaulo foram o Walter Silva e o Carlito Maia quem barraram o Simonal nas rádios, Tvs e casas de shows. No Rio foi toda aquela gente 'de esquerda' ligada à turma do Pasquim, que na época, 1972/1973, vendia 500 mil tablóides por semana e era formador de opinião, quer a gente goste ou não. O linchamento do Simonal continuou através de toda década de 80 — aquele marketeiro da miséria, o Henfil, vivia tascando o Simonal. A classe artística, então, nem se fale. Ajudar o Simonal nada custava, mas e o medo do comprometimento? Essa gente é muito covarde, essa gente não vale nada.
Indenização? Esqueçam, não vai rolar enquanto estiver no poder a mesma gente premia o Ziraldo e o Jaguar com indenizações milionárias e sem fundamento.
O Refer tem TODA razão. Esse grupelho ensandecido em varrer os cofres públicos só indenizam os Carlos Heitor Cony da vida.
Cara, logo o Cony!!! Me lembro de ler suas colunas n'O Cruzeiro e sempre me passou a impressão de ser um dos partidários mais fervorosos da ditadura! Essa porra é mesmo um trem da alegria! Bem...já que é trem da alegria, bota a família do Simona num vagão desses aí, porra!
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Caro Refer, já lhe respondi lá no G&B, ok?
[]ões
José Gregori e todos que compõem essas comissões de justiça são feitos da mesma massa de Cony, Ziraldo, Betinho (esse é outro marketeiro da miséria a quem até tentaram premiar com o Nobel da Paz), Frei Beto. Não irão levantar a monstruosa injustiça contra o Simonal com a intenção de reabilitá-lo moralmente e eventualmente indenizar a família porque isso iria desmascará-los. Não fosse assim, teriam começado a fazer enquanto o Simonal vivia. Tempo pra isso eles tiveram!
Dizer que não há nada nos registros oficiais que comprometam o Simonal não é mais que obrigação — só faltava forjarem provas para justificar o linchamento do cara.
Repitam, esqueçam, isso não vai rolar. A imprensa é igualmente culpada, a imprensa é VENAL, ela se abriga do lado do poder seja ele qual for — não vai ser ela quem vai fazer pressão a favor do Simonal. Tá mais fácil indenizarem antes as famílias do Walter Silva e do Carlito Maia. Putaquiparil!
Vamo deixar cair.... o Simona era uma figuraça e um grande artista realmente. Grande Severino Nonô... uma grande injustiça o que fizeram com o Simona. Os caras já tinham tentado assassinar o Jobim em 1968 (pela composição da atrocidade Sabiá!!!!!), mas com o Simona eles ultrapassaram todos os limites... grande post, Berlotas
Valeu, Yer!
Realmente, 'Sabiá' não está entre o melhor de Tom mas, daí, aquela conspiração toda não fez o menor sentido que não a intolerância ideológica.
[]ões
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